Mais um soneto

"Lá vou eu de novo
Como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer"

Retrato em Branco e Preto, Tom Jobim e Chico Buarque

Monday, November 28, 2005

Luz cortada


Foto: Ierê Ferreira

Moleque subindo morro, descendo escada, coração na boca, olhos de bicho, correria por dentro. Nas pernas, vontade. Nas asas, linha. Nos sonhos, qualquer vida. Sobre a vida, nada mais do que um vôo. Para ganhar o mundo, o risco vale a pena, ainda que seja pra morrer no emaranhado da fatalidade dos encontros esperados.

Presença

Foto: Ierê Ferreira

Quem pode arriscar a vida nos mistérios da solidão? Quisera por um minuto ser pedra, areia, caminho e espelho para não sentir mais do que se sente. Se ninguém pode comportar o céu dentro da alma, por que não viver com sede em vez de afogar-se? Pois que não há outra maneira de existir do que através de uma janela de agosto.

Friday, November 04, 2005

Lapa


Foto: Ierê Ferreira

Brinco de esconder com a puta mais feia. Aposto com a luz que ninguém me pega. Se fecho os olhos, vôo em zigue-zague entre as colunas. Dou impulso e sou bailarino, sapatilhas deslizando no teto de um carro para outro. Rezo e lágrimas negras empodrecem em minha roupa. Chorando, abro a bolsa e posso querer mais um dia.

Sou Lapa de nascença.

Wednesday, November 02, 2005

Sexo

Foto: Ierê Ferreira

Quando os corpos são livres, há sexo. Nos panos, impressões da dança. No ar, os suspiros tenebrosos da morte certa. A tensão do erro e da entrega. Passos não marcados imprimem coreografia inventada para a ópera-vida. Nosso, o baile são mãos e pernas ganhando terreno. Nós nos lençóis.

Anoitecer no Rio

Foto: Ierê Ferreira

Quando o azul se envaidece de ser Rio de Janeiro e se maquia, isto é todo o perigo do mundo. É quando o Cristo Redentor se apieda dos mais vulneráveis habitantes e, com os braços empedernidos mas abertos, pode chorar. É geralmente quando as paixões queimam os rostos dos desavisados. E, se os olhos cegam, as consciências se expandem e, transcendentes, são cor de laranja para render-se irremediável e voluntariamente ao desatino mais completo. A noite vence sem mistérios.